• O leito vazio.

O leito vazio.

Tempo de leitura: 2 minutos

Uma simples troca de quartos. Alta médica. Quem sabe, transferência para um hospital mais especialista ou a ida para um exame de rotina! De qualquer forma, sempre resta o leito vazio.

Ainda assim, ocasionalmente, seu esvaziar se preenche pela visita da morte.

Não que morte signifique término. Entretanto, há sempre um dissabor, um gosto amargo, um significado de saudades.

Resta o leito desabitado. E por não ter ninguém; não há diversão, risos, trocas. Fica ali somente a respiração suspensa, um hiato de conversa. E nós sabemos!

Sabemos que semana que vem não vai ver… brincar… bagunçar… jogar… nem ali, nem em qualquer outra parte do mundo. Porque agora, o mundo daquela pessoa é outro.

Palhaço é fantasia, caminha pela ténue linha entre realidade e imaginação. Está sempre pronto, recetivo, desejoso de encontros que o faça pensar, descobrir, viver novas experiências.

No entanto, palhaço também vive. Palhaço sente dor, sede, fome, frio (inclusive aqueles na barriga). Palhaço sente saudades. Medo! Palhaço chora… Como diz o velho palhaço: “palhaço não é bicho, palhaço também é gente e muitas vezes trabalha com a alma aos pedaços”.

Criamos expectativas ao ver o leito vazio, e sempre acreditamos no melhor possível. Até na possibilidade de uma ida a casa de banho, não importa qual dos números!

Enamorado de vida e das suas coisas, o palhaço ama as conversas, os sorrisos, os abraços. É seu alimento! Mais que comida de verdade. Suspiro, prefere os de paixão que os de açúcar. Cantos e músicas, cantadas assim, tanto faz se por vozes graves ou agudas, gargalhadas, ainda mais cheias de risos miúdos… Palhaço chora. Chora quando sabe que não terá mais isto tudo.

Haverão outras risadas, sempre há. Porém, cada risada é única. Cada olhar é único. Cada abraço é único.

Um leito vazio será ocupado por outro alguém. Um novo amigo.

Mas a vaga deixada pelo leito nunca será preenchida. O palhaço aprende a ser grato. Grato ao tempo que lhe foi confiado, ao riso de saudades, ao ouvir e tocar cada vida que lhe passa. Grato por ser tocado por cada uma delas. Resta-lhe pequenos retalhos e com isto, faz a sua colcha, um chão de caquinhos, mosaico. Porque o palhaço é o remendar de vidas que ele viveu.

Estudou a arte do palhaço com Val de Carvalho (Doutores da Alegria), Cristiane Paoli Quito (École Philippe Gaulier), César Gouveia (Jogando no Quintal), Fernando Sampaio (La Mínima), Caroline Dream, Marcos Casuo, Alex Navarro (Cirque du Soleil) e integrou a equipa da primeira jornada de palhaços cuidadores do Brasil com o Dr. Patch Adams.

Fabiana Cardoso dos Santos
Fabiana Cardoso dos Santos

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