O seu carrinho está vazio!
O palhaço não morre.
Há quem diga que tudo nesta vida passa: o amor, o verão, a última moda e, até mesmo, as contas por pagar. Mas há algo — ou melhor, alguém — que teima em ficar, entre risos e tropeções, entre realidade e fantasia, a zombar das certezas humanas e a beliscar o senso comum da sociedade. Sim, ele mesmo, o palhaço.
O palhaço não morre! Não porque seja imortal num sentido mágico, mas porque é essencial. É visível no riso que nos escapa, mesmo quando não queremos. Vai além de um rosto pintado ou de um par de sapatos gigantes. É a manifestação viva do arquétipo do trickster, esse ser ancestral que habita mitos, lendas e sonhos. É o tolo sagrado, aquele que ri da própria desgraça e, ao fazê-lo, convida-nos a rir da nossa também.
Sim, o palhaço é um espelho. Mas não daqueles que nos devolvem a imagem composta, penteada e filtrada. É daqueles espelhos de parque de diversões, que nos mostram tortos, desajeitados, reais. E que graça há na perfeição, senão a graça de não ser perfeita?
Como quem faz malabarismo com ideias, o palhaço cumpre um papel simbólico, social e espiritual. Transgride. Ri do rei, tropeça em verdades absolutas, invade a ordem com um nariz vermelho e um olhar puro. Uma transgressão necessária — como uma dança tribal que afasta as más energias ou um tropeço que nos obriga a parar e a olhar para o chão (ou para dentro).
A sua origem remonta aos primórdios da humanidade. Dos truões das cavernas aos bufões da Idade Média, dos Pulcinellas renascentistas aos palhaços de hospital, sempre houve alguém a encarnar a tolice e a transformá-la em sabedoria. O palhaço, com a sua ingenuidade ardilosa, desafia a lógica, expõe as hipocrisias e, no meio de tudo isso, faz-nos rir. E rir, convenhamos, é um dos últimos actos de liberdade que ainda nos resta.
Numa era de algoritmos e sorrisos em forma de ‘emoji’, o palhaço é quem nos devolve o riso verdadeiro. Aquele riso que sacode o peito, que nos conecta com o presente. Ele não está ali para entreter, mas para despertar. Para dizer, com o corpo, que viver é cair — e levantar-se, e ao levantar-se, rir.
Por isso, o palhaço não morre. Porque haverá sempre um coração apertado que precisa de ser aliviado com uma gargalhada. Uma alma cansada que precisa de se lembrar de brincar. Um mundo demasiado sério que precisa de ser ridicularizado com ternura.
O palhaço vive. No palco, na rua, no hospital, no lar. Vive em ti, em mim, em cada um que ousa rir, mesmo quando tudo à volta parece dizer o contrário.
E enquanto houver quem ria de si, o palhaço resistirá. Eternamente vivo. Eternamente necessário.
Encontrou algum erro?
Estudou a arte do palhaço com Val de Carvalho (Doutores da Alegria), Cristiane Paoli Quito (École Philippe Gaulier), César Gouveia (Jogando no Quintal), Fernando Sampaio (La Mínima), Caroline Dream, Marcos Casuo, Alex Navarro (Cirque du Soleil) e integrou a equipa da primeira jornada de palhaços cuidadores do Brasil com o Dr. Patch Adams.
Deixe um comentário
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.