• Qual seu sonho de Natal?
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Qual o seu sonho de Natal?

Tempo de leitura: 2 minutos

Abrir o cartão de natal, escrito pelo pequeno Wesley, foi como abrir um buraco em mim.

Aquelas palavras pesaram como um soco no estômago, tragou um gosto amargo. Amargo por atestar que sonhos nem sempre são feitos de matéria, por revelar que os meus sonhos são na maioria das vezes irrelevantes.

Wesley é uma criança que frequenta o Centro de Hemodiálise Infantil do Hospital São Paulo. Uma das muitas que têm por rotina, a necessidade de fazer várias sessões de tratamento durante a semana. A sua doença, sem pedir licença, roubou-lhe a infância e exige que dia sim, dia não, fique entranhado a uma máquina que lhe faça aquilo que a natureza recusa fazer.

No cartão, palavras grafadas numa caligrafia ainda infantil: “O meu sonho de natal é ganhar um rim.”

Além de palavras, observei o meu reflexo. Nítido, como num espelho de cristal. Um palhaço feito de tintas e fantasias que naquele momento bateu a cara na sólida parede da realidade.

Quanto valem os meus sonhos?

Quais sonhos devo sonhar?

Quão pequenos meus sonhos são diante de necessidades tão grandes como a de Wesley?

Existem momentos na vida de trabalhos como o meu, que me faz meditar sobre tudo que sou. Oportunidades de ponderar o meu papel diante deste mundo. Pequenos convites a uma profunda introspeção. E sou grato por isto. Tenho profunda gratidão pela vida dar-me em pequenos instantes, lições que valem uma existência.

Wesley ensinou-me que sonhos não tem limites. E por sonhar tão alto, um desejo pode atingir esferas maiores e desflorar em milagres.

Soube que Wesley, por sonhar assim, ganhou um rim de verdade!

O seu pedido de Natal foi atendido por um anjo, que talvez tenha lido o cartão como eu, e notado assim como notei, que sonhar não tem fronteiras.

Abençoado o anjo que leu o cartão.

Abençoada a vida que trouxe a nova vida de Wesley.

Abençoados todos os sonhos que invadem cada ser deste planeta.

E acima de tudo, que seja abençoada a vida feita de milagres quotidianos.

Continuo a vestir-me de fantasia e tintas. Continuo o meu ofício de risos e sorrisos. Continuo a bater a cara na parede da realidade cada vez que uma criança me ensina algo.

Mas, aprendi, que sonhar vale a pena! Hoje sonho no dia que poderemos mudar o mundo com simples palavras. Palavras como as escritas no cartão de Wesley.

Estudou a arte do palhaço com Val de Carvalho (Doutores da Alegria), Cristiane Paoli Quito (École Philippe Gaulier), César Gouveia (Jogando no Quintal), Fernando Sampaio (La Mínima), Caroline Dream, Marcos Casuo, Alex Navarro (Cirque du Soleil) e integrou a equipa da primeira jornada de palhaços cuidadores do Brasil com o Dr. Patch Adams.

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